Quinto
e último dia da XV Viagem Apostólica do Santo Padre que o levou à Polônia.
O
Papa deixou a sede do arcebispado de Cracóvia, na manhã deste domingo (31/7) e
se dirigiu, novamente, ao “Campus Misericordiae”, a 12 km., para presidir à
solene Santa Missa de encerramento da XXXI JMJ.
Ao
chegar à localidade, o Pontífice abençoou uma das duas Casas que, depois da
JMJ, será dedicada à Assistência de idosos em dificuldade e pobres; a outra
servirá como sede da Caritas local.
Depois
de aspergir, com a água santa, as pessoas presentes, o ambiente e a imagem de
Nossa Senhora de Loreto, tomou o papamóvel e deu uma volta entre os milhares de
jovens que se encontravam no “Campus Misericordiae”, muitos dos quais passaram
a noite ali em oração e meditação diante do SS. Sacramento exposto sobre o
altar..
A
seguir dirigiu-se à sacristia para se paramentar e dar início ao grande evento
do dia: a celebração Eucarística conclusiva da JMJ. Concelebraram cerca de
1.200 bispos e arcebispos e mais de 15 mil sacerdotes.
No
início da Santa Missa, o Cardeal-arcebispo de Cracóvia, Dom Stanislaw Dziwisz,
fez uma saudação ao Papa e numerosos presentes. Depois, ao pronunciar sua
homilia, Francisco recordou, inicialmente, que o jovens se encontram em
Cracóvia para encontrar Jesus, com base no Evangelho de hoje que fala do
encontro, Jericó, entre Jesus e um homem, chamado Zaqueu:
“Jesus
não se limita a pregar ou a saudar alguém, mas atravessa a cidade. Em outras
palavras, Jesus quer se aproximar da vida de cada um, percorrer o nosso caminho
até ao fim, para que a sua vida e a nossa se encontrem concretamente”.
Assim
dá-se o encontro tão surpreendente com Zaqueu, o chefe dos Publicanos, isto é,
dos cobradores de impostos. Zaqueu era um rico, colaborador dos odiados
romanos; era um explorador do povo, uma pessoa que, pela sua má reputação, nem
devia sequer aproximar-se do Mestre. Porém, disse o Santo Padre, este encontro
com Jesus mudou a sua vida, como poderia acontecer com cada um de nós:
“Zaqueu,
porém, teve que enfrentar alguns obstáculos para encontrar Jesus: pelo menos
três, que podem servir de exemplo também para nós: baixa estatura, vergonha
paralisante, multidão murmurante”.
Começando
pelo primeiro obstáculo, a sua “baixa estatura”, o Papa disse que Zaqueu não
conseguia ver o Mestre, porque era baixinho. Também hoje – explicou - podemos
correr o risco de ficar distante de Jesus, porque não nos sentimos à altura,
porque temos uma baixa estima de nós mesmos. Esta é uma grande tentação, que
não tem a ver apenas com a autoestima, mas com a fé:
“Jesus
assumiu a nossa humanidade e o seu coração nunca se afastará de nós; o Espírito
Santo quer habitar em nós; somos chamados à alegria eterna com Deus. Eis a
nossa estatura, a nossa identidade espiritual: não aceitar-nos e viver
descontentes e de modo negativo significa não reconhecer a nossa verdadeira
identidade. Deus nos ama como somos e nenhum pecado, defeito ou erro lhe fará
mudar de ideia”.
Para
Jesus, ninguém é inferior e distante, ninguém é insignificante. Pelo contrário,
todos somos prediletos e importantes! Deus conta conosco pelo que somos, não
pelo que temos; ele nos aguarda com esperança, acredita em nós e nos ama! Aqui,
Francisco passou a explicar o segundo obstáculo que Zaqueu tinha para encontrar
Jesus: uma “vergonha paralisante”:
“Podemos
imaginar o que aconteceu no coração de Zaqueu, antes de subir ao sicômoro: deve
ter havido uma grande luta; por um lado, uma curiosidade boa: conhecer Jesus;
por outro, o risco de fazer um papelão”.
Zaqueu
era um personagem público, um líder, um homem de poder e sabia que, ao subir à
árvore, faria um papel ridículo; ele, porém, venceu a vergonha, porque a
atração por Jesus era mais forte. Ele estava pronto a tudo, porque Jesus era o
único que poderia livrá-lo do pecado e da infelicidade. Quando ele o chamou,
desceu imediatamente e colocou-se em jogo. E o Pontífice exortou:
“Queridos
jovens, não tenham vergonha de apresentar-lhe tudo na Confissão: fraquezas,
cansaço, pecados, pois Ele os surpreenderá com o seu perdão e a sua paz. Não
tenham medo de dizer-lhe ‘sim’ com todo o entusiasmo do coração, de
responder-lhe com generosidade, de segui-lo. Apostem no belo amor, que requer
renúncia ao sucesso forçado e à droga de pensar só em si e nas próprias
comodidades”.
Por
fim, depois da “baixa estatura” e da “vergonha paralisante”, o Santo Padre
explicou terceiro obstáculo que Zaqueu teve que enfrentar: a “multidão
murmurante”, que o bloqueou e o criticou, dizendo que Jesus não devia entrar na
casa dele, por era um pecador. Como é difícil acolher Jesus e aceitar um Deus
“rico em misericórdia”! Mas, ele nos convida a ter coragem, a ser mais fortes
que o mal. Os outros poderão rir de nós por acreditarmos na força da
misericórdia. E dirigindo-se de modo particular aos jovens da JMJ, Francisco
deixou seu recado:
“Não
tenham medo, mas pensem nas palavras destes dias ‘Felizes os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia’. Vocês poderão parecer sonhadores em acreditar
numa humanidade nova, que rejeita o ódio entre os povos e as barreiras dos
países, que mantém suas tradições, sem egoísmos ou ressentimentos. Não
desanimem! Com seu sorriso e braços abertos transmitam esperança, pois vocês
são uma bênção para a família humana”.
Em
suma, enquanto a multidão criticava e julgava Zaqueu, Jesus levantou seu olhar
para ele, um olhar que vai além dos defeitos e pecados. Assim, ele entrevê o
bem futuro, não se resigna perante a obstinação, mas busca o caminho da unidade
e da comunhão; Jesus não se detém nas aparências das pessoas, mas olha seu
coração. E o Papa ponderou:
“Com
este olhar de Jesus, vocês podem criar uma nova humanidade, sem esperar
recompensa, mas buscando o bem, felizes de ter um coração puro e lutando, de
modo pacífico, pela honestidade e a justiça. Não sejam superficiais, desconfiem
das aparências mundanas. Mas, tenham um coração que vê e transmite o bem, sem
cessar. Contagiem o mundo com a alegria que receberam gratuitamente de Deus.
Hoje,
disse por fim Francisco, Jesus nos diz com o fez com Zaqueu: “Desça depressa,
pois hoje vou ficar na sua casa”. Logo, a JMJ, poderíamos dizer, começa hoje e
continua em suas casas, porque é lá que Jesus vai encontrá-los, a partir de
agora. O Senhor não quer ficar apenas nesta bela cidade ou nas belas
recordações, mas agir em suas vidas: no estudo, no trabalho, nas amizades, nos
afetos, nos projetos e nos sonhos.
Tudo,
porém, recomendou o Papa, deve realizar-se na oração, na Palavra de Deus, no
Evangelho! Respondamos a Jesus que nos chama por nome. Façamos memória,
agradecidos, do que vimos e ouvimos aqui. (MT)
Panamá, sede da próxima
JMJ em 2019
Ao
término da solene concelebração Eucarística de encerramento da JMJ, em
Cracóvia, o Santo Padre passou à oração mariana do Angelus no “Campus
Misericordiae”, periferia de Cracóvia, anunciando oficialmente que a próxima
JMJ será no PANAMÁ:
“A
Providência divina, que sempre nos precede. Ela já decidiu onde será a próxima
etapa desta grande peregrinação iniciada, em 1985, por São João Paulo II! Por
isso, é com alegria que lhes anuncio que a próxima JMJ, depois das duas a nível
diocesano, se realizará no Panamá, em 2019”.
Depois,
antes da oração do Angelus, o Papa disse: “No final desta Celebração, quero
unir-me a todos vocês, em ação de graças a Deus, Pai de Misericórdia infinita,
porque nos permitiu viver esta JMJ. Agradeço pelo trabalho e a oração para
preparar este evento e a todos os que contribuíram para seu bom êxito”.
Mas,
Francisco quis dirigir uma “obrigado especial” aos jovens, que encheram
Cracóvia com o entusiasmo contagiante da sua fé. “São João Paulo II rejubila-se
no Céu e nos ajudará a levar a alegria do Evangelho pelo mundo inteiro”.
Nestes
dias, acrescentou o Papa, experimentamos a beleza da fraternidade universal em
Cristo, centro e esperança da nossa vida. Ouvimos a voz do Bom Pastor, vivo no
meio de nós, que falou aos nossos corações, renovou-nos com seu amor e fez-nos
sentir a luz do seu perdão e a força da sua graça. Foi uma verdadeira
oxigenação espiritual!
Depois,
ao indicar a imagem da Virgem Maria, ao lado do altar, venerada por São João
Paulo II no Santuário de Kalwaria, o Pontífice a invocou para que fecunde a
experiência vivida pelos jovens na Polônia, a fim de que germine e produza
frutos abundantes, com a ação do Espírito Santo.
Enfim,
o Papa expressou seu desejo de que “que cada um, com suas limitações e
fragilidades, possa ser testemunha de Cristo no lugar onde vive, em suas
famílias, paróquias, associações e grupos, nos ambientes de estudo, trabalho,
diversão.
Ao
término da solene Santa Missa de encerramento da JMJ, o Bispo de Roma regressou
à sede do Episcopado de Cracóvia para o almoço.
Na
parte da tarde, deste domingo (31/7), o Santo Padre vai se despedir do pessoal
da Episcopado, onde esteve hospedado nestes cinco dias da sua XV Viagem
Apostólica e, depois manterá um encontro, na Arena Tauron, a 10km., com os
cerca de 20 mil Voluntários da JMJ e com o Comitê organizador e Benfeitores da
JMJ. Por fim, no aeroporto de Cracóvia, o Papa se despedirá da Polônia
Na
parte da tarde deste sábado (30/7), o Santo Padre se dirigiu ao “Campus
Misericordiae”, situado a 12 quilômetros de Cracóvia.
Este
é lugar central dos principais eventos da JMJ, neste sábado e domingo, que são
a Vigília de Oração e a Missa conclusiva da JMJ. O Campo da Misericórdia
situa-se na localidade de Brzegi, uma região de atividades econômicas de
Wieliczka. Trata-se de uma área de aproximadamente três mil hectares, capaz de
acolher até dois milhões de pessoas. Depois da JMJ este lugar se tornará Asilo
para Idosos e Centro de caridade para enfermos.
O
altar no “Campus Misericordiae”, encontra-se em uma estrutura de 11 metros de
altura, 150 de largura, bem visível de qualquer ponto do campo. Serão
utilizados 66 autofalantes e 30 telões para uma maior participação dos jovens
dos eventos conclusivos da JMJ.
Para
se chegar ao “Campus Misericordiae” foram melhorados 17 quilômetros de
estradas, instaladas antenas de Wi-Fi gratuito, além de uma Capela para
adoração Eucarística, pontos de informação entre outros para necessidades
pessoais.
No
centro do “Campus Misericordiae” foi construído um grande lago natural no qual
se destaca uma “Arca de Noé”, para evocar os 1050 anos de Batismo da Polônia.
Neste
local, milhares de jovens participam, na noite deste sábado (30/7), da Vigília
de Oração, presidida pelo Papa Francisco, que terá como tema: “Jesus, fonte de
Misericórdia”! O evento prevê alguns testemunhos pessoais dos jovens e uma
cenografia, com base no tema, dividida em cinco partes: fé aos duvidosos; esperança
aos desencorajados; amor aos indiferentes, perdão a quem comete o mal, alegria
às pessoas tristes.
Durante
a Vigília de Oração no “Campus Misercordiae”, o Papa Francisco fez um longo
pronunciamento, partindo dos testemunhos de vida apresentados pelos jovens.
Referindo-se
ao depoimento de Rand, um rapaz da Síria, que pedia para "rezar pelo seu
amado país”, o Papa disse: “O que há de melhor, para começar a nossa
Vigília, do que rezar?
Viemos
de várias partes do mundo, de continentes, países, línguas, culturas e povos
diferentes. Somos «filhos» de nações que, talvez, estejam em paz ou, talvez, em
guerra.
Neste
sentido, Francisco convidou os presentes a rezar pelos sofrimentos das vítimas
da guerra, embora nada justifica o sangue derramado de um irmão. A nossa
resposta a este mundo em conflito tem um nome: fraternidade, irmandade,
comunhão, família.
Aqui,
pediu aos jovens presentes para fazer um momento de silêncio e rezar (pausa).
A
seguir, o Pontífice recordou a imagem dos Apóstolos no dia de Pentecostes. Eles
estavam fechados no Cenáculo, com medo e ameaçados pelo ambiente circunstante.
Naquele contexto, aconteceu algo de espetacular e grandioso: a vinda do
Espírito, que os impeliu a uma aventura impensável.
Os
jovens, que acabaram de partilhar conosco as suas experiências, pareciam os
discípulos, que temeram e se fecharam. Ficaram paralisados!
Com
Jesus somos capazes de contagiar os demais com a alegria, que nasce do amor e
da misericórdia de Deus; devemos vê-lo no faminto, no sedento, no maltrapilho,
no doente, no amigo em perigo, no encarcerado, no refugiado, no migrante, no
próximo solitário.
Deus,
frisou Francisco, quer abrir as portas das nossas vidas. O mundo de hoje
pede-nos para ser protagonistas da história. A história pede-nos para defender
a nossa dignidade e o nosso futuro.
O
Senhor, com o dia de Pentecostes, realiza em nós um dos maiores milagres:
torna-nos sinais de reconciliação, de comunhão, de criação. Ele quer que as
nossas mãos sejam suas mãos para construir um mundo novo.
O
Senhor, concluiu o Papa, aposta no nosso futuro; Ele nos convida a deixar a
nossa marca no mundo e na vida, que determina a história humana.
Logo,
o Santo Padre exortou a juventude, presente em Cracóvia, a saber viver na
diversidade, no diálogo, na partilha; a ter coragem de construir pontes e de
abater os muros!
Por
fim, como sinal de unidade, o Papa pediu aos jovens para dar-se as mãos, para
formar uma grande ponte de fraternidade e amizade!
Ao
término do pronunciamento do Pontífice, foi exposto sobre o altar do “Campus
Misericordiae” o ostensório com o Santíssimo Sacramento para a adoração dos
presentes.
Recordamos
que amanhã, domingo, no mesmo “Campus Misericordiae”, o Papa Francisco
presidirá à Santa Missa de encerramento da JMJ, da qual concelebrarão cerca de
1.200 bispos e 15 mil sacerdotes.
Este
é o discurso previsto e não contempla os acréscimos de improviso do Papa
Francisco :
"Queridos
jovens!
É bom estar aqui convosco nesta Vigília
de Oração.
Na parte final do seu corajoso e
emocionante testemunho, Rand pediu-nos uma coisa.
Disse-nos: «Peço-vos, sinceramente, que
rezeis pelo meu amado país». Uma história marcada pela guerra, pelo sofrimento,
pela ruína, que termina com um pedido: o da oração. Que há de melhor para
começar a nossa Vigília do que rezar?
Vimos de várias partes do mundo, de
continentes, países, línguas, culturas, povos diferentes. Somos «filhos» de
nações que estão talvez em disputa por vários conflitos, ou até mesmo em
guerra. Outros vimos de países que podem estar «em paz», que não têm conflitos
bélicos, onde muitas das coisas dolorosas que acontecem no mundo fazem parte
apenas das notícias e da imprensa. Mas estamos cientes duma realidade: hoje e
aqui, para nós provenientes de diversas partes do mundo, o sofrimento e a
guerra que vivem muitos jovens deixaram de ser uma coisa anónima, já não são
uma notícia de imprensa, mas têm um nome, um rosto, uma história, fizeram-se-me
vizinhos. Hoje a guerra na Síria é a dor e o sofrimento de tantas pessoas, de
tantos jovens como o corajoso Rand, que está aqui entre nós e pede-nos para
rezar pelo seu país amado.
Há situações que nos podem parecer distantes,
até ao momento em que, de alguma forma, as tocamos. Há realidades que não
entendemos porque vemo-las apenas através dum monitor (do telemóvel ou do
computador). Mas, quando tomamos contacto com a vida, com as vidas concretas e
já não pela mediação dos monitores, então algo mexe connosco, sentimo-nos
convidados a envolver-nos: «Basta de cidades esquecidas», como diz Rand; nunca
mais deve acontecer que irmãos estejam «circundados pela morte e por
assassinatos» sentindo que ninguém os ajudará. Queridos amigos, convido-vos a
rezar juntos pelo sofrimento de tantas vítimas da guerra, para podermos
compreender, uma vez por todas, que nada justifica o sangue dum irmão, que nada
é mais precioso do que a pessoa que temos ao nosso lado. E, neste pedido de oração,
quero-vos agradecer também a vós, Natália e Miguel, pois também vós
partilhastes connosco as vossas batalhas, as vossas guerras interiores.
Apresentastes-nos as vossas lutas e o modo como as superastes. Sois um sinal
vivo daquilo que a misericórdia quer fazer em nós.
Agora, não vamos pôr-nos a gritar contra
ninguém, não vamos pôr-nos a litigar, não queremos destruir. Não queremos
vencer o ódio com mais ódio, vencer a violência com mais violência, vencer o
terror com mais terror. A nossa resposta a este mundo em guerra tem um nome:
chama-se fraternidade, chama-se irmandade, chama-se comunhão, chama-se família.
Alegramo-nos pelo facto de virmos de culturas diferentes e nos unirmos para
rezar. Que a nossa palavra melhor, o nosso melhor discurso seja unirmo-nos em
oração. Façamos um momento de silêncio, e rezemos; ponhamos diante de Deus os
testemunhos destes amigos, identifiquemo-nos com aqueles para quem «a família é
um conceito inexistente, a casa apenas um lugar para dormir e comer», ou com
aqueles que vivem no medo porque creem que os seus erros e pecados os baniram
definitivamente. Coloquemos na presença do nosso Deus também as vossas
«guerras», as lutas que cada um carrega consigo, no seu próprio coração.
(SILÊNCIO)
Enquanto rezávamos, veio-me à mente a imagem
dos Apóstolos no dia de Pentecostes. Uma cena que nos pode ajudar a compreender
tudo aquilo que Deus sonha realizar na nossa vida, em nós e connosco. Naquele
dia, os discípulos estavam fechados dentro de casa pelo medo. Sentiam-se
ameaçados por um ambiente que os perseguia, que os forçava a estar numa pequena
casa obrigando-os a ficar ali imóveis e paralisados. O medo apoderou-se deles.
Naquele contexto, acontece algo espetacular, algo grandioso. Vem o Espírito
Santo, e línguas como que de fogo pousaram sobre cada um deles, impelindo-os
para uma aventura que nunca teriam sonhado.
Ouvimos três testemunhos; tocamos, com os
nossos corações, as suas histórias, as suas vidas. Vimos como eles viveram
momentos semelhantes aos dos discípulos, atravessaram momentos em que estiveram
cheios de medo, em que parecia que tudo desmoronava. O medo e a angústia, que
nascem do facto de uma pessoa saber que saindo de casa pode não ver mais os
seus entes queridos, o medo de não se sentir apreciado e amado, o medo de não ter
outras oportunidades. Eles partilharam connosco a mesma experiência que fizeram
os discípulos, experimentaram o medo que leva ao único lugar possível: o
fechamento. E, quando o medo se esconde no fechamento, fá-lo sempre na
companhia da sua «irmã gémea», a paralisia; faz-nos sentir paralisados. Sentir
que, neste mundo, nas nossas cidades, nas nossas comunidades, já não há espaço
para crescer, para sonhar, para criar, para contemplar horizontes, em suma,
para viver, é um dos piores males que nos podem acontecer na vida. A paralisia
faz-nos perder o gosto de desfrutar do encontro, da amizade, o gosto de sonhar
juntos, de caminhar com os outros.
Na vida, porém, há outra paralisia ainda
mais perigosa e difícil, muitas vezes, de identificar e que nos custa muito
reconhecer. Gosto de a chamar a paralisia que brota quando se confunde a
FELICIDADE com um SOFÁ! Sim, julgar que, para ser felizes, temos necessidade de
um bom sofá. Um sofá que nos ajude a estar cómodos, tranquilos, bem seguros. Um
sofá – como os que existem agora, modernos, incluindo massagens para dormir –
que nos garanta horas de tranquilidade para mergulharmos no mundo dos
videojogos e passar horas diante do computador. Um sofá contra todo o tipo de
dores e medos. Um sofá que nos faça estar fechados em casa, sem nos cansarmos
nem nos preocuparmos. Provavelmente, o sofá-felicidade é a paralisia silenciosa
que mais nos pode arruinar; porque pouco a pouco, sem nos darmos conta,
encontramo-nos adormecidos, encontramo-nos pasmados e entontecidos enquanto outros
– talvez os mais vivos, mas não os melhores – decidem o futuro por nós.
Certamente, para muitos, é mais fácil e vantajoso ter jovens pasmados e
entontecidos que confundem a felicidade com um sofá; para muitos, isto resulta
mais conveniente do que ter jovens vigilantes, desejosos de responder ao sonho
de Deus e a todas as aspirações do coração.
Mas a verdade é outra! Queridos jovens,
não viemos ao mundo para «vegetar», para transcorrer comodamente os dias, para
fazer da vida um sofá que nos adormeça; pelo contrário, viemos com outra
finalidade, para deixar uma marca. É muito triste passar pela vida sem deixar
uma marca. Mas, quando escolhemos a comodidade, confundindo felicidade com
consumo, então o preço que pagamos é muito, mas muito caro: perdemos a
liberdade.
É precisamente aqui que existe uma grande
paralisia: quando começamos a pensar que a felicidade é sinónimo de comodidade,
que ser feliz é caminhar na vida adormentado ou narcotizado, que a única
maneira de ser feliz é estar como que entorpecido. É certo que a droga faz mal,
mas há muitas outras drogas socialmente aceitáveis, que acabam por nos tornar
em todo o caso muito mais escravos. Umas e outras despojam-nos do nosso bem
maior: a liberdade.
Amigos, Jesus é o Senhor do risco, do
sempre «mais além». Jesus não é o Senhor do conforto, da segurança e da
comodidade. Para seguir a Jesus, é preciso ter uma boa dose de coragem, é
preciso decidir-se a trocar o sofá por um par de sapatos que te ajudem a
caminhar por estradas nunca sonhadas e nem mesmo pensadas, por estradas que
podem abrir novos horizontes, capazes de contagiar-te a alegria, aquela alegria
que nasce do amor de Deus, a alegria que deixa no teu coração cada gesto, cada
atitude de misericórdia. Caminhar pelas estradas seguindo a «loucura» do nosso
Deus, que nos ensina a encontrá-Lo no faminto, no sedento, no maltrapilho, no
doente, no amigo em maus lençóis, no encarcerado, no refugiado e migrante, no
vizinho que vive só. Caminhar pelas estradas do nosso Deus, que nos convida a
ser atores políticos, pessoas que pensam, animadores sociais; que nos encoraja
a pensar uma economia mais solidária. Em todos os campos onde vos encontrais, o
amor de Deus convida-vos a levar a Boa Nova, fazendo da própria vida um dom
para Ele e para os outros.
Poderíeis replicar-me: Mas isto, padre,
não é para todos; é só para alguns eleitos! Sim, e estes eleitos são todos
aqueles que estão dispostos a partilhar a sua vida com os outros. Tal como o
Espírito Santo transformou o coração dos discípulos no dia de Pentecostes,
assim o fez também com os nossos amigos que partilharam os seus testemunhos.
Uso as tuas palavras, Miguel: disseste-nos que no dia em que te confiaram, lá
na «Fazenda», a responsabilidade de contribuir para o melhor funcionamento da
casa, então começaste a compreender que Deus te pedia algo. Assim começou a
transformação.
Este é o segredo, queridos amigos, que
todos somos chamados a experimentar. Deus espera algo de ti, Deus quer algo de
ti, Deus espera-te. Deus vem quebrar os nossos fechamentos, vem abrir as portas
das nossas vidas, das nossas perspetivas, dos nossos olhares. Deus vem abrir
tudo aquilo que te fecha. Convida-te a sonhar, quer fazer-te ver que, contigo,
o mundo pode ser diferente. É assim: se não deres o melhor de ti mesmo, o mundo
não será diverso.
O tempo que hoje estamos a viver não
precisa de jovens-sofá, mas de jovens com os sapatos, ainda melhor, calçados
com as botas. Aceita apenas jogadores titulares em campo, não há lugar para
reservas. O mundo de hoje pede-vos para serdes protagonistas da história,
porque a vida é bela desde que a queiramos viver, desde que queiramos deixar
uma marca. Hoje a história pede-nos que defendamos a nossa dignidade e não
deixemos que sejam outros a decidir o nosso futuro. O Senhor, como no
Pentecostes, quer realizar um dos maiores milagres que podemos experimentar:
fazer com que as tuas mãos, as minhas mãos, as nossas mãos se transformem em
sinais de reconciliação, de comunhão, de criação. Ele quer as tuas mãos para
continuar a construir o mundo de hoje. Quer construí-lo contigo.
Dir-me-ás: Mas, padre, eu sou muito
limitado, sou pecador… que posso fazer? Quando o Senhor nos chama não pensa
naquilo que somos, naquilo que éramos, naquilo que fizemos ou deixamos de
fazer. Pelo contrário: no momento em que nos chama, Ele está a ver tudo aquilo
que poderemos fazer, todo o amor que somos capazes de comunicar. Ele aposta
sempre no futuro, no amanhã. Jesus olha-te projetado no horizonte.
Por isso, amigos, hoje Jesus convida-te,
chama-te a deixar a tua marca na vida, uma marca que determine a história, que
determine a tua história e a história de muitos.
A vida de hoje diz-nos que é muito fácil
fixar a atenção naquilo que nos divide, naquilo que nos separa. Querem
fazer-nos crer que fechar-nos é a melhor maneira de nos protegermos daquilo que
nos faz mal. Hoje nós, adultos, precisamos de vós para nos ensinardes a
conviver na diversidade, no diálogo, na partilha da multiculturalidade não como
uma ameaça mas como uma oportunidade: tende a coragem de nos ensinar que é mais
fácil construir pontes do que levantar muros! E todos juntos pedimos que
exijais de nós percorrer as estradas da fraternidade. Construir pontes… Sabeis
qual é a primeira ponte a construir? Uma ponte que podemos realizar aqui e
agora: um aperto de mão, estender a mão. Coragem! Fazei agora, aqui, esta ponte
primordial, e dai-vos a mão. É a grande ponte fraterna, e podem aprender a
fazê-la os grandes deste mundo... Não para a fotografia, mas para continuar a
construir pontes cada vez maiores. Que esta ponte humana seja semente de muitas
outras; será uma marca.
Hoje, Jesus, que é o caminho, chama-te a
deixar a tua marca na história. Ele, que é a vida, convida-te a deixar uma
marca que encha de vida a tua história e a de muitos outros. Ele, que é a
verdade, convida-te a deixar as estradas da separação, da divisão, do
sem-sentido. Aceitais? Que respondem as vossas mãos e os vossos pés ao Senhor,
que é caminho, verdade e vida? "