Vigília de Oração:
jovens, protagonistas da história
Na
parte da tarde deste sábado (30/7), o Santo Padre se dirigiu ao “Campus
Misericordiae”, situado a 12 quilômetros de Cracóvia.
Este
é lugar central dos principais eventos da JMJ, neste sábado e domingo, que são
a Vigília de Oração e a Missa conclusiva da JMJ. O Campo da Misericórdia
situa-se na localidade de Brzegi, uma região de atividades econômicas de
Wieliczka. Trata-se de uma área de aproximadamente três mil hectares, capaz de
acolher até dois milhões de pessoas. Depois da JMJ este lugar se tornará Asilo
para Idosos e Centro de caridade para enfermos.

Para
se chegar ao “Campus Misericordiae” foram melhorados 17 quilômetros de
estradas, instaladas antenas de Wi-Fi gratuito, além de uma Capela para
adoração Eucarística, pontos de informação entre outros para necessidades
pessoais.
No
centro do “Campus Misericordiae” foi construído um grande lago natural no qual
se destaca uma “Arca de Noé”, para evocar os 1050 anos de Batismo da Polônia.

Durante
a Vigília de Oração no “Campus Misercordiae”, o Papa Francisco fez um longo
pronunciamento, partindo dos testemunhos de vida apresentados pelos jovens.
Referindo-se
ao depoimento de Rand, um rapaz da Síria, que pedia para "rezar pelo seu
amado país”, o Papa disse: “O que há de melhor, para começar a nossa
Vigília, do que rezar?
Viemos
de várias partes do mundo, de continentes, países, línguas, culturas e povos
diferentes. Somos «filhos» de nações que, talvez, estejam em paz ou, talvez, em
guerra.
Neste
sentido, Francisco convidou os presentes a rezar pelos sofrimentos das vítimas
da guerra, embora nada justifica o sangue derramado de um irmão. A nossa
resposta a este mundo em conflito tem um nome: fraternidade, irmandade,
comunhão, família.
Aqui,
pediu aos jovens presentes para fazer um momento de silêncio e rezar (pausa).
A
seguir, o Pontífice recordou a imagem dos Apóstolos no dia de Pentecostes. Eles
estavam fechados no Cenáculo, com medo e ameaçados pelo ambiente circunstante.
Naquele contexto, aconteceu algo de espetacular e grandioso: a vinda do
Espírito, que os impeliu a uma aventura impensável.
Os
jovens, que acabaram de partilhar conosco as suas experiências, pareciam os
discípulos, que temeram e se fecharam. Ficaram paralisados!
Com
Jesus somos capazes de contagiar os demais com a alegria, que nasce do amor e
da misericórdia de Deus; devemos vê-lo no faminto, no sedento, no maltrapilho,
no doente, no amigo em perigo, no encarcerado, no refugiado, no migrante, no
próximo solitário.
Deus,
frisou Francisco, quer abrir as portas das nossas vidas. O mundo de hoje
pede-nos para ser protagonistas da história. A história pede-nos para defender
a nossa dignidade e o nosso futuro.
O
Senhor, com o dia de Pentecostes, realiza em nós um dos maiores milagres:
torna-nos sinais de reconciliação, de comunhão, de criação. Ele quer que as
nossas mãos sejam suas mãos para construir um mundo novo.
O
Senhor, concluiu o Papa, aposta no nosso futuro; Ele nos convida a deixar a
nossa marca no mundo e na vida, que determina a história humana.
Logo,
o Santo Padre exortou a juventude, presente em Cracóvia, a saber viver na
diversidade, no diálogo, na partilha; a ter coragem de construir pontes e de
abater os muros!
Por
fim, como sinal de unidade, o Papa pediu aos jovens para dar-se as mãos, para
formar uma grande ponte de fraternidade e amizade!
Ao
término do pronunciamento do Pontífice, foi exposto sobre o altar do “Campus
Misericordiae” o ostensório com o Santíssimo Sacramento para a adoração dos
presentes.
Recordamos
que amanhã, domingo, no mesmo “Campus Misericordiae”, o Papa Francisco
presidirá à Santa Missa de encerramento da JMJ, da qual concelebrarão cerca de
1.200 bispos e 15 mil sacerdotes.
Este
é o discurso previsto e não contempla os acréscimos de improviso do Papa
Francisco :
"Queridos
jovens!
É bom estar aqui convosco nesta Vigília
de Oração.
Na parte final do seu corajoso e
emocionante testemunho, Rand pediu-nos uma coisa.

Vimos de várias partes do mundo, de
continentes, países, línguas, culturas, povos diferentes. Somos «filhos» de
nações que estão talvez em disputa por vários conflitos, ou até mesmo em
guerra. Outros vimos de países que podem estar «em paz», que não têm conflitos
bélicos, onde muitas das coisas dolorosas que acontecem no mundo fazem parte
apenas das notícias e da imprensa. Mas estamos cientes duma realidade: hoje e
aqui, para nós provenientes de diversas partes do mundo, o sofrimento e a
guerra que vivem muitos jovens deixaram de ser uma coisa anónima, já não são
uma notícia de imprensa, mas têm um nome, um rosto, uma história, fizeram-se-me
vizinhos. Hoje a guerra na Síria é a dor e o sofrimento de tantas pessoas, de
tantos jovens como o corajoso Rand, que está aqui entre nós e pede-nos para
rezar pelo seu país amado.

Agora, não vamos pôr-nos a gritar contra
ninguém, não vamos pôr-nos a litigar, não queremos destruir. Não queremos
vencer o ódio com mais ódio, vencer a violência com mais violência, vencer o
terror com mais terror. A nossa resposta a este mundo em guerra tem um nome:
chama-se fraternidade, chama-se irmandade, chama-se comunhão, chama-se família.
Alegramo-nos pelo facto de virmos de culturas diferentes e nos unirmos para
rezar. Que a nossa palavra melhor, o nosso melhor discurso seja unirmo-nos em
oração. Façamos um momento de silêncio, e rezemos; ponhamos diante de Deus os
testemunhos destes amigos, identifiquemo-nos com aqueles para quem «a família é
um conceito inexistente, a casa apenas um lugar para dormir e comer», ou com
aqueles que vivem no medo porque creem que os seus erros e pecados os baniram
definitivamente. Coloquemos na presença do nosso Deus também as vossas
«guerras», as lutas que cada um carrega consigo, no seu próprio coração.
(SILÊNCIO)
Enquanto rezávamos, veio-me à mente a imagem
dos Apóstolos no dia de Pentecostes. Uma cena que nos pode ajudar a compreender
tudo aquilo que Deus sonha realizar na nossa vida, em nós e connosco. Naquele
dia, os discípulos estavam fechados dentro de casa pelo medo. Sentiam-se
ameaçados por um ambiente que os perseguia, que os forçava a estar numa pequena
casa obrigando-os a ficar ali imóveis e paralisados. O medo apoderou-se deles.
Naquele contexto, acontece algo espetacular, algo grandioso. Vem o Espírito
Santo, e línguas como que de fogo pousaram sobre cada um deles, impelindo-os
para uma aventura que nunca teriam sonhado.

Na vida, porém, há outra paralisia ainda
mais perigosa e difícil, muitas vezes, de identificar e que nos custa muito
reconhecer. Gosto de a chamar a paralisia que brota quando se confunde a
FELICIDADE com um SOFÁ! Sim, julgar que, para ser felizes, temos necessidade de
um bom sofá. Um sofá que nos ajude a estar cómodos, tranquilos, bem seguros. Um
sofá – como os que existem agora, modernos, incluindo massagens para dormir –
que nos garanta horas de tranquilidade para mergulharmos no mundo dos
videojogos e passar horas diante do computador. Um sofá contra todo o tipo de
dores e medos. Um sofá que nos faça estar fechados em casa, sem nos cansarmos
nem nos preocuparmos. Provavelmente, o sofá-felicidade é a paralisia silenciosa
que mais nos pode arruinar; porque pouco a pouco, sem nos darmos conta,
encontramo-nos adormecidos, encontramo-nos pasmados e entontecidos enquanto outros
– talvez os mais vivos, mas não os melhores – decidem o futuro por nós.
Certamente, para muitos, é mais fácil e vantajoso ter jovens pasmados e
entontecidos que confundem a felicidade com um sofá; para muitos, isto resulta
mais conveniente do que ter jovens vigilantes, desejosos de responder ao sonho
de Deus e a todas as aspirações do coração.
Mas a verdade é outra! Queridos jovens,
não viemos ao mundo para «vegetar», para transcorrer comodamente os dias, para
fazer da vida um sofá que nos adormeça; pelo contrário, viemos com outra
finalidade, para deixar uma marca. É muito triste passar pela vida sem deixar
uma marca. Mas, quando escolhemos a comodidade, confundindo felicidade com
consumo, então o preço que pagamos é muito, mas muito caro: perdemos a
liberdade.
É precisamente aqui que existe uma grande
paralisia: quando começamos a pensar que a felicidade é sinónimo de comodidade,
que ser feliz é caminhar na vida adormentado ou narcotizado, que a única
maneira de ser feliz é estar como que entorpecido. É certo que a droga faz mal,
mas há muitas outras drogas socialmente aceitáveis, que acabam por nos tornar
em todo o caso muito mais escravos. Umas e outras despojam-nos do nosso bem
maior: a liberdade.
Amigos, Jesus é o Senhor do risco, do
sempre «mais além». Jesus não é o Senhor do conforto, da segurança e da
comodidade. Para seguir a Jesus, é preciso ter uma boa dose de coragem, é
preciso decidir-se a trocar o sofá por um par de sapatos que te ajudem a
caminhar por estradas nunca sonhadas e nem mesmo pensadas, por estradas que
podem abrir novos horizontes, capazes de contagiar-te a alegria, aquela alegria
que nasce do amor de Deus, a alegria que deixa no teu coração cada gesto, cada
atitude de misericórdia. Caminhar pelas estradas seguindo a «loucura» do nosso
Deus, que nos ensina a encontrá-Lo no faminto, no sedento, no maltrapilho, no
doente, no amigo em maus lençóis, no encarcerado, no refugiado e migrante, no
vizinho que vive só. Caminhar pelas estradas do nosso Deus, que nos convida a
ser atores políticos, pessoas que pensam, animadores sociais; que nos encoraja
a pensar uma economia mais solidária. Em todos os campos onde vos encontrais, o
amor de Deus convida-vos a levar a Boa Nova, fazendo da própria vida um dom
para Ele e para os outros.
Poderíeis replicar-me: Mas isto, padre,
não é para todos; é só para alguns eleitos! Sim, e estes eleitos são todos
aqueles que estão dispostos a partilhar a sua vida com os outros. Tal como o
Espírito Santo transformou o coração dos discípulos no dia de Pentecostes,
assim o fez também com os nossos amigos que partilharam os seus testemunhos.
Uso as tuas palavras, Miguel: disseste-nos que no dia em que te confiaram, lá
na «Fazenda», a responsabilidade de contribuir para o melhor funcionamento da
casa, então começaste a compreender que Deus te pedia algo. Assim começou a
transformação.
Este é o segredo, queridos amigos, que
todos somos chamados a experimentar. Deus espera algo de ti, Deus quer algo de
ti, Deus espera-te. Deus vem quebrar os nossos fechamentos, vem abrir as portas
das nossas vidas, das nossas perspetivas, dos nossos olhares. Deus vem abrir
tudo aquilo que te fecha. Convida-te a sonhar, quer fazer-te ver que, contigo,
o mundo pode ser diferente. É assim: se não deres o melhor de ti mesmo, o mundo
não será diverso.
O tempo que hoje estamos a viver não
precisa de jovens-sofá, mas de jovens com os sapatos, ainda melhor, calçados
com as botas. Aceita apenas jogadores titulares em campo, não há lugar para
reservas. O mundo de hoje pede-vos para serdes protagonistas da história,
porque a vida é bela desde que a queiramos viver, desde que queiramos deixar
uma marca. Hoje a história pede-nos que defendamos a nossa dignidade e não
deixemos que sejam outros a decidir o nosso futuro. O Senhor, como no
Pentecostes, quer realizar um dos maiores milagres que podemos experimentar:
fazer com que as tuas mãos, as minhas mãos, as nossas mãos se transformem em
sinais de reconciliação, de comunhão, de criação. Ele quer as tuas mãos para
continuar a construir o mundo de hoje. Quer construí-lo contigo.
Dir-me-ás: Mas, padre, eu sou muito
limitado, sou pecador… que posso fazer? Quando o Senhor nos chama não pensa
naquilo que somos, naquilo que éramos, naquilo que fizemos ou deixamos de
fazer. Pelo contrário: no momento em que nos chama, Ele está a ver tudo aquilo
que poderemos fazer, todo o amor que somos capazes de comunicar. Ele aposta
sempre no futuro, no amanhã. Jesus olha-te projetado no horizonte.
Por isso, amigos, hoje Jesus convida-te,
chama-te a deixar a tua marca na vida, uma marca que determine a história, que
determine a tua história e a história de muitos.
A vida de hoje diz-nos que é muito fácil
fixar a atenção naquilo que nos divide, naquilo que nos separa. Querem
fazer-nos crer que fechar-nos é a melhor maneira de nos protegermos daquilo que
nos faz mal. Hoje nós, adultos, precisamos de vós para nos ensinardes a
conviver na diversidade, no diálogo, na partilha da multiculturalidade não como
uma ameaça mas como uma oportunidade: tende a coragem de nos ensinar que é mais
fácil construir pontes do que levantar muros! E todos juntos pedimos que
exijais de nós percorrer as estradas da fraternidade. Construir pontes… Sabeis
qual é a primeira ponte a construir? Uma ponte que podemos realizar aqui e
agora: um aperto de mão, estender a mão. Coragem! Fazei agora, aqui, esta ponte
primordial, e dai-vos a mão. É a grande ponte fraterna, e podem aprender a
fazê-la os grandes deste mundo... Não para a fotografia, mas para continuar a
construir pontes cada vez maiores. Que esta ponte humana seja semente de muitas
outras; será uma marca.
Hoje, Jesus, que é o caminho, chama-te a
deixar a tua marca na história. Ele, que é a vida, convida-te a deixar uma
marca que encha de vida a tua história e a de muitos outros. Ele, que é a
verdade, convida-te a deixar as estradas da separação, da divisão, do
sem-sentido. Aceitais? Que respondem as vossas mãos e os vossos pés ao Senhor,
que é caminho, verdade e vida? "
Fonte: Rádio Vaticana
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